Fawzia Koofi, 35 anos, deputada e candidata às presidenciais do Afeganistão em 2014, trocou Cabul por Lisboa para apresentar o livro que escreveu a partir das cartas que deixava às filhas, de 12 e 10 anos, sempre que saía em campanha sem saber se voltava.
O ponto forte da sua agenda política são os Direitos das Mulheres, o que não espanta, visto que, por ter nascido mulher, era esperado que morresse. Que mudanças nota entre a sua geração e a das suas filhas?
Algumas, mas claramente insuficientes. A minha primeira filha foi recebida em festa; a segunda não... Mas sou de uma aldeia rural e nas cidades as tradições estão a mudar, lentamente, mas a mudar. E as mulheres são muitas, pelo que a perspectiva de as ter a começa a fazer sentido num mundo de trabalho, até aqui, exclusivamente masculino… Em casa, elas não dão lucro.
Sustenta no seu livro (Às Minhas Filhas, com Amor...) que a sharia e a burqa não são tão más como parecem... Quer explicar?
É tudo uma questão de liberdade de escolha, o que nem sempre o Ocidente entende... Se é imposto é mau; se é uma opção, pode ser ou não. Todos têm o direito de seguir uma lei islâmica como a sharia e uma tradição como a burqa que, para a minha mãe, foi sinónimo de protecção e, para mim, de humilhação. Os problemas de uma e outra prática resultam da diversidade de leituras. A lei islâmica, que eu professo, assenta numa prática moderada e não extremista, como a pretendem os talibãs, que se apropriaram dela para dominar a população. Em nenhum texto sagrado se defende o adultério mas também em nenhum se legitima o apedrejamento, essa, é mais uma invenção dos talibãs!
Disse numa entrevista que falar com os talibãs é inútil. Mas não é também indispensável num processo democrático?
Não, porque eles não acreditam na democracia ou então participavam no processo, fazendo eleger os seus representantes no parlamento – não só não fazem como ameaçam de morte quem faz. Nunca sei quando saio em campanha, se volto... E o mundo tem de parar de ser conivente com o Paquistão porque só enfraquecendo os talibãs é que o grupo desaparece. Quanto aos políticos afegãos, também temos muito que fazer mas não é na integração deles. A integração tem de ser feita junto daqueles que, por falta de alternativa, se juntam aos talibãs, reforçando a sua força. Eles alimentam-se da fraqueza do povo.
Como é que viu a chegada das forças aliadas e o anúncio da sua partida, já agendada para 2014?
Lembro-me de andar pelas ruas sem saber exactamente de que país eram aqueles militares e nem queria saber: sentia-me grata e livre. E não só eu, todos os recebemos com esperança. Mas com a invasão do Iraque os olhos do Mundo voltaram-se para lá, o Afeganistão ficou esquecido e os talibãs emergiram de novo até a comunidade internacional ter voltado a olhar para nós mas numa única perspectiva: erradicar talibãs e al-Qaeda...
Quanto à retirada, agendada para 2014, devolvo a pergunta ao presidente Obama: Se acha que nessa data deixa para trás um país em segurança, retire. Agora, se o que fica é uma guerra interrompida, as consequências serão tão más para o meu país como para os vossos. Não é realista sair em 2014. Começar a transição sim, sair de vez, não!
Vai concorrer a presidente do Afeganistão nas eleições de 2014. Quais são os destaques do seu programa?
Liberdade e justiça, coisas básicas e essenciais. Nada de transcendente ou irrealista. Não estou aqui para mudar o Mundo nem mesmo o país. Este tem de mudar por si e ao seu ritmo, mas é com pequenos passos que se faz a diferença e é neles que assenta a minha proposta de intervenção... Elaborei uma lista de violências contra as mulheres que não se esgotam na violência doméstica de marido para mulher mas também na do pai para a filha quando insiste num casamento arranjado com alguém do seu meio, apenas para manter o estatuto social e a tradição... Um casamento legal tem de ser livre. A liberdade é a minha única proposta política. O resto vem por acréscimo.
Que opinião tem do actual presidente, Hamid Karzai?
De início prometia ser um bom presidente mas agora está em rota de colisão com todos. Não só por causa das acusações de corrupção mas por falta de visão democrática. Karzai tem uma perspectiva étnica da política, por isso negoceia com os talibãs, o que o torna impopular aos olhos do país e do Mundo.
O Afeganistão precisa de parcerias. Irão e Paquistão e outros países centro-asiáticos estão de olho em nós. Não temos boas experiências com eles e precisamos de as ter com outros. O Afeganistão é muito apetecível, quer do ponto de vista geoestratégico, quer do ponto de vista da riqueza de recursos naturais... Há tanto para fazer. Também por isso é o melhor país para ter nascido. Não saberia viver em paz havendo guerras por fazer.
(Entrevista de Dina Gusmão a Fawzia Koofi, autora de Às Minhas Filhas, com Amor..., publicada no Correio da Manhã, no dia 1 de Março.)
As mulheres afegãs não devem ser vistas como vítimas, ainda que o sejam, porque "podem fazer a diferença" e serem "parceiras" no caminho da mudança, afirmou à agência Lusa a deputada afegã Fawzia Koofi.
Esta militante dos direitos das mulheres, que ocupou o cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional do Afeganistão na anterior legislatura, está em Portugal a promover a sua autobiografia intitulada, na edição portuguesa, Às Minhas Filhas, com Amor....
"Embora as mulheres do Afeganistão tenham sofrido, e muito (...), elas são muito fortes. Essa é a mensagem que não é entendida pelo mundo, elas podem fazer a mudança, podem fazer a diferença e penso que não devemos olhar para elas como uma pobre mulher do Afeganistão", defendeu.
Fawzia Koofi afirmou ainda que o Paquistão e o Irão são alguns dos países que estão a apoiar os talibãs devido aos seus interesses estratégicos no Afeganistão.
Questionada sobre a existência de ligações entre os serviços secretos paquistaneses e os talibãs, a deputada respondeu também com uma pergunta: "Se elas não existem de onde é que os talibãs recebem apoio?"
"Se o grupo [dos talibãs] não tivesse apoio de fora do Afeganistão como é que podia existir e sobreviver? Não é só o Paquistão, agora é também o Irão que está a apoiar os talibãs e também outros países que têm interesses em desestabilizar a região", afirmou.
Para lerem a entrevista de Natascha Kampusch, autora de 3096 Dias, à Focus, publicada no dia 9 de Fevereiro, basta clicarem nas imagens.
Para lerem a entrevista de Natascha Kampusch, autora de 3096 Dias, à Sábado, publicada no dia 27 de Janeiro, basta clicarem nas imagens.
Para lerem a entrevista de Khady, autora de Mutilada, publicada no Diário de Notícias, no dia 29 de Setembro de 2006, basta clicarem na imagem.
Para lerem a entrevista de Khady, autora de Mutilada, publicada no suplemento "Mil Folhas", do Público, no dia 13 de Outubro de 2006, basta clicarem na imagem.
A máscara é só para as fotografias. Porque ainda tem medo que a matem. No fim dos anos 70 era uma rapariga numa “minúscula aldeia” da Cisjordânia, à espera de casar. O rapaz era “belo, belo”. Começaram a encontrar-se nas ervas. Ela ficou grávida. A família reuniu-se para decidir o que fazer. O cunhado executou a sentença. Regou-a com gasolina e deitou-lhe fogo. Ela não morreu. Foi deixada num hospital, sem tratamento. A mãe tentou envenená-la. Deu à luz a meio da noite, sem ajuda. Uma organização suíça conseguiu levá-la para o estrangeiro. Hoje vive “algures na Europa”. Conta a sua história num livro, Queimada Viva. Há pelo menos cinco mil mulheres por ano vítimas de “crimes de honra”.
Podem continuar a ler a entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Souad, autora de Queimada Viva, publicada na revista Pública, do Público, no dia 2 de Maio de 2004, aqui.
TRANSTORNO DE MÚLTIPLAS PERSONALIDADES
“CRIAR OUTRAS PESSOAS NA MINHA CABEÇA FOI A MINHA FORMA DE LIDAR DE LIDAR COM OS ABUSOS”
Depois de anos a ser abusada pelo pai, Alice Jamieson passou a sofrer de transtorno de múltiplas personalidades. Ela conta como o trauma moldou a sua vida.
Conhecer novas pessoas é stressante para Alice Jamieson – não é o seu nome real – e é em altura de stress que as suas personalidades estão mais propensas para aparecer. Talvez por isso não deva ficar surpreendida quando Alice vem pela primeira vez ao meu encontro na sua casa e não veja nela qualquer sinal da mulher de quarenta anos que está prestes a iniciar um doutoramento. No seu lugar está um rapaz de dez anos chamado JJ, de cabeça inclinada, braços a baloiçar e a falar num voz arrastada e aguda.
Se eu quero ver o seu candeeiro novo? Sigo-o até outro quarto, onde um espectacular candeeiro em forma de avião está pendurado no tecto. Ele faz silvar a hélice e mostra-me um conjunto de letras em madeira para serem coladas à porta. As letras formam a frase “O ANTRO DE JJ”. “Posso vir para aqui e ficar sozinho”, explica.
Sentamo-nos na cozinha e digo a JJ que acho o livro de Alice muito bom. Estou a tentar usar palavras apropriadas para uma conversa com um miúdo de dez anos quando as pernas dele param de baloiçar e ele levanta a cabeça e olha para mim intensamente. Alice está de volta. Ela aperta a minha mão e apresenta-se; não tem qualquer conhecimento da conversa que acabámos de ter.
Quando Alice tinta vinte e quatro anos foi-lhe dito que sofria do transtorno de múltiplas personalidades ou transtorno dissociativo de identidade, uma doença associada a abusos na infância. A certa altura chegou a ter quinze personalidades alternantes, muitas delas crianças com memórias específicas dos abusos por que passara, a grande maioria às mãos do pai, apesar de às vezes ele também permitir o envolvimento de outros adultos.
Pode ler a entrevista completa de Toni Maguire, autora de Não Digas Nada à Mamã e Quando o Papá Voltar, ao Sol , aqui.
a menina que se chamava número 27
a vida secreta das princesas árabes
clara – a menina que sobreviveu ao holoc
comprada – a minha vida num harém
o diário da minha melhor amiga